Bienal - Zeca Baleiro
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Teu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
Ao cabo da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiá
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria
uma das melhores do Zeca ;)
Postagens populares
-
Quero absorver intensamente toda a tristeza do mundo.As esperanças não alcançadas, os filhos que não nasceram, o pranto de mães desconsolada...
-
antes só, do que estranhamente acompanhada.
-
Era tão simples ser uma semente de melancia. Seu único trabalho era ser igual às outras. Estar ali - indiferentemente -, porque não faz dife...
-
Eis o momento do recolhimento. Escrevo como nunca, tomo notas como nunca, rememoro como nunca - também repito como nunca. Repito um moment...
-
Vou contar um segredo. Não acredito nEla, nem no que Ela prega, nem no que pregam por Ela, nem em quase nada do que a rodeia - dizer que não...
-
Empolgada com a seletiva de O viajante, da qual estou participando desde meados de setembro, resolvi postar o texto produzido no curso de tr...
-
É a exatidão que tentamos conferir à nossa vida que a torna inexata. Ainda bem!
-
Tudo está começando novamente. Tudo começando. Nova mente? Tudo está começando de novo, novamente. Tudo está começando, velhamente. De novo,...
-
Fotografo seus deslizes, e me derreto por suas flores. Só as cicatrizes é que não me deixam morrer de amores.
-
Sem dúvida nenhuma encontro-me no momento de maior bagunça da minha vida - isso compreende desde a bagunça, propriamente dita, na minha cas...
2 comentários:
Adoro o Zeca.
E essas letras cheias de letra dele!
^^
Beijos.
Postar um comentário