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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Segredo

Vou contar um segredo. Não acredito nEla, nem no que Ela prega, nem no que pregam por Ela, nem em quase nada do que a rodeia - dizer que não acredito em nada sempre me contradiz -, mas o silêncio (quase absoluto) que só ela proporciona em muitos metros quadrados, vazios de pessoas e relógios funcionando, no centro mais movimentado do que nunca da cidade, me reconforta e me devolve o que eu menos tenho tido: sossego. São dez ou quinze minutos de uma tarde ensolarada que não resisti a fugir mais uma vez. Em um intervalo entre as aulas que tinha que dar, tive que passar ali por perto e estava destinada a ficar ali por quanto tempo precisasse para esquecer um pouco do começo do mês que sempre me assombra, sabendo que esse tempo não poderia passar das 16: 20. Imagino ter chegado ali por volta das 15:55... Entrei, sem fazer nenhum sinal, nem pingar nada na cabeça, e me dirigi até o último banco da última fileira. Lá fiquei por muitos minutos, que não sei quantos (intuitivamente, cheguei no horário certo pra dar aula). Consegui, como era o objetivo, pensar em tudo, e não, não pensar em nada - como é de costume, quando se quer fugir. Vendo todas aquelas pessoas que entravam e saiam, benzendo-se e ajoelhando-se, percebi que eu era a mais desamparada ali. Não por um egoísmo exacerbado em pensar que nossos problemas são sempre maiores, mas porque realmente, eu não sou amparada da mesma forma que ninguém daquelas pessoas. Nada daquilo que elas acreditam ampará-las, é o que acredito que ampare alguém. Aliás, eu não ando acreditando que nada ampare alguém. Menos ainda, tenho a sensação de que algum suporte maternal possa me apoiar, não porque esse não existe ou não reside mais entre nós, mas simplesmente porque quem deveria ser meu suporte maternal também não sabe o que é suporte maternal há muito tempo e esqueceu o que é ser um, não por inteiro, mas perdeu um terço de sua capacidade. O que menos me conforta é saber que existem sementinhas e sobrenomes por trás de nós. O quesito 'família' nem sempre é como um báu antigo, que quando nos sentimos bugigangas, podemos nos jogar lá dentro e ficar, até sermos resgatados novamente - agora mais fortes. Talvez o quesito, de vez em quando solicitado, sirva só para ressaltar as nossas características "herdadas pela convivência", talvez sirva só como espelho das falhas que não sabemos que temos e que menos ainda queremos sabê-las. Talvez, esses poucos minutos tenham parecido quase horas, que foi pelo que me perguntaram, assim que coloquei os pés para fora daquele recinto. "Quase quatro e quinze.", respondi pra velhinha que corria pra pegar o ônibus como se ainda tivesse horários pra cumprir.

4 comentários:

vanessacamposrocha disse...

nada mais matenal que um solzinho (folgado)nos pés, um cafe quentinho, um bom livro de poesia... ah, ma´s espera... acho que você queria "gente", assim como eu...
um beijo www.Vanessacamposrocha.zip.net

Unknown disse...

Coração de amiga não é coração de mãe...
mas no das suas amigas sempre cabe você!

Luciano disse...

Gostei do seu blog
Vim aqui tb divulgar meu.
Se gostar do meu blog e quiser "linkar" no seu, eu adoraria!
Divulgue pra quem achar que eu mereço, rs...
Abraços
Luciano

PAPIROS DE ALEXANDRIA
http://papiros.zip.net/

Comunidade
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=16313611

Pedro disse...

Que texto lindo Ju, lindo!