Oi, pessoal! Tá aí um posto prometido faz tempo ao pessoal do www.demochila.com.br, mas que não saía nunca porque eu não aprendia a arrumar estas imagens. Agora que aprendi, aguardem! Em breve dicas gastronômicas na Argentina, a parte II da história e Dicas pra quem vai pra Foz do Iguaçu! Confiram:
Olá pessoal do @demochila! Meu nome é Julie (@juliefank) e eu sou a mais nova viajante @demochila a compartilhar histórias com vocês. Confesso que meu currículo de mochileira é relativamente pequeno, mas adianto que - se tudo correr bem - ele está prestes a aumentar!
Começo com um relato de uma viagem que foi - diga-se de passagem - fundamental para saber que se tudo der errado, ainda há chances de... mais alguma coisa dar errado! Conto aqui como virei funcionária de verão num hostel em Buenos Aires, quando o destino era uma viagem tranquila (?) para o Deserto do Atacama, com um voltinha pela costa chilena. Explico. O destino era o Chile, com passagem pelo norte argentino. A companhia: meu tio e um amigo. O meio de transporte era um carro 1.0 e a promessa era de aventura. E como foi!
Saímos de casa (Cascavel-PR fica, para quem não sabe, a mais ou menos 150 km da fronteira com a Argentina) no dia 24/12 e no dia 26 já estávamos na Província de Salta. A estrada vazia do dia 25/12 somada a fatores como o tempo bom e a disposição para ganhar tempo na estrada fizeram com que, em pouco mais de um dia de viagem, tivéssemos percorrido 1.828 km em um Clio 1.0. Parabéns pra Renault (sem marketing, eu juro!) e tranquilidade para nós, que já
tínhamos um plano B caso o carro ficasse com dor de cabeça ou problemas de respiração, o conhecido "soroche" a alguns mil metros de altitude. Para aqueles que acham que o vocábulo "conhecido" não foi adequado, soroche é o mal de altitude - quando o ouvido produz zunidos esquisitos, sua cabeça passa a agregar percussionistas de todos os lugares e o seu nariz esquece de sua principal função: respirar!
O negócio é que o carro funcionou, o tempo colaborou e a nossa disposição, apesar do soroche, era de dar inveja a qualquer viajante. Estrada sem graça pra trás - leia-se províncias de Misiones, Corrientes e Chaco, com suas intermináveis planícies e gado, planícies e gado, planícies e gado -, era hora de dormir para acordar cedo e aproveitar a estrada e a vista das montanhas. A cidade escolhida para pouso no segundo dia foi a simpática San Salvador de Jujuy. Curtimos uma cidade, como manda o costume espanhol, noturnamente animada, com apresentações culturais e rodas de tango na praça, além de barzinhos movimentados na avenida principal. Abastecidos de frutas, era hora de ir pro hostel e descansar. Teríamos o domingo inteiro para aproveitar a vista e seguirmos parando em todos os pueblitos que nos convidassem à visita.
Nada se compara à emoção de estar diante da pré-cordilheira dos Andes e de todas aquelas cores (por incrível que pareça!) das montanhas desérticas em que qualquer motivo é motivo para parar e tirar fotos. Da singela Purmamarca (que merece um post à parte) ao marco do Trópico de Capricórnio, fomos parar nesta que foi a cidade onde se construiu um monumento aos índios - Humahuaca. Inesquecível é acompanhar dali, do alto do monumento, o sol se pondo e dando tchau às montanhas, uma a uma, numa dança de cores inesquecível - quem é que precisa de câmera profissional quando é o sol quem ajusta a luz para a melhor foto?
O cenário de filme me convenceu de que deveria confiar na intuição viajante do meu tio. Em conversa fiada, daquelas que a gente torce para não virar realidade saiu um: "Se a viagem acabasse aqui, já teria valido a pena!".
Coincidência ou não, mais tarde fomos parar em La Quiaca, fronteira com a Bolívia, onde as paisagens de tirar o fôlego deram lugar ao caos assustador de uma fronteira. Atravessamos a pé até Villazón. Como qualquer fronteira, pessoas avolumavam-se para legalmente fazer a passagem de um país a outro, enquanto outras, das mais diversas maneiras, escondiam suas aquisições. Mesmo para quem, como eu, está acostumado com o caos da tríplice fronteira acerca da Ponte da Amizade, é de assustar a quantidade de cachorros e o quanto eles são mais limpos do que as pessoas, quando se trata dos nativos. Não tive oportunidade ainda de conhecer a Bolívia, além desse pedacinho, mas agora compreendo o porquê de tantas recomendações alimentares e de higiene e infecções intestinais em viajantes. De volta à La Quiaca apenas para pouso, compreendi o real sentido da palavra "medo": ao sairmos para jantar, o restaurante indicado pelo hostel (e se esse era o melhor, o que esperar do outros?) assustava. Havia de fato outras opções de "comedores", mas o cansaço nos fez ficar. O doce arrependimento surgiu quando soubemos onde era o banheiro - era necessário passar pela cozinha para chegar até lá. É claro que nenhum de nós optou por visitá-lo antes do jantar. O mesmo arrependimento permaneceu ao chegar ao prato: à época me adaptando ao vegetarianismo (que, tenho que confessar, não é pra mim!), pedi o único prato sem carne - uma sopa à base de adivinha-o-quê? Batata. A rapidez da garçonete havia sido confundida com eficiência: logo percebi que a carne tinha sido tirada pedaço a pedaço de uma sopa já pronta - há sabe-se-lá quanto tempo. Uma "delícia", como se pode imaginar.
Depois da frustração alimentar, resolvemos que não havia muito mais o que fazer em La Quiaca e, no outro dia pela manhã, colocamos todas as nossas coisas no carro para partir de volta no sentido sul, em direção a Laguna de Posuelos, uma reserva ambiental com mais de 25.000 flamingos, a 3.500 m de altitude, a (mais ou menos) 50 km de Abra Pampa. Antes disso, conhecemos o povoado de Yavi, quase um oásis em meio às montanhas, com pouco mais de 300 habitantes.
O dia estava lindo, mas estranhamente quieto. E foi assim que a viagem seguiu até a volta. A Laguna estava abandonada. Não havia informações, não havia guias, não
havia guardas. Não havia sequer, caso quiséssemos arriscar sozinhos, forma de chegar mais perto. Tentamos avançar com o carro cuidadosamente, mas à medida que avançávamos, percebíamos que o terreno ainda úmido da lagoa agora seca poderia se mostrar traiçoeiro a qualquer momento. Depois de conseguir visualizar (com o zoom da máquina) algumas revoadas de flamingos chegando aos milhares perto de seus companheiros, já que era o que nos restava, era hora de partir. A ideia era voltar pela Ruta Provincial 7 em direção a San Antonio de los Cobres e quem sabe passar pelas Salinas Grandes, para dali seguir pelo Paso Jama até o Deserto do Atacama, onde passaríamos a virada de ano. Informada mais uma vez do roteiro e cansada da paisagem desértica que havia nos levado até ali, não pensei duas vezes: peguei no sono. Acordei duas ou três vezes com o balanço do carro ou pra ver um bando de vicunhas que passavam por ali. A última vez que acordei foi de uma maneira inusitada. Estávamos dentro do carro capotando. Já havíamos passado uma das duas serras e os barrancos mais perigosos haviam ficado para trás, algo quis
que parássemos de rolar em uma pequena valeta na beira da estrada. Diógenes estava ao volante e se perdeu numa curva. Na estrada seca abarrotada de pedrinhas soltas, isso foi a gota d'água para o capotamento. Como sempre diz meu tio, "para morrer, basta estar vivo!": em menos de 3 minutos, aprendia o sentido literal dessa frase. Respirávamos areia e pó. Tudo estava envolto por muito, mas muito pó.
A primeira reação, após perguntar se estavam todos bem, foi sair do carro - eu logo estava, em estado de choque, sentada no meio da estrada de terra vendo aquele pesadelo tomar forma. A ficha demorou para cair e as minhas costas doíam muito. Logo vimos que os maiores machucados eram um roxo na minha perna e uma unha preta do meu tio, mas o corpo dolorido, o desespero pela situação e a visão do carro provocaram uma tristeza muito grande. Tive a sorte de não virar o pescoço, o suficiente para vocês não saberem o ocorrido por minhas palavras. A viagem programada para 17 dias, havia acabado no 4º dia, em pouco mais do que 2 minutos. Era hora de pedir ajuda. [Continua no próximo post.]
Olá pessoal do @demochila! Meu nome é Julie (@juliefank) e eu sou a mais nova viajante @demochila a compartilhar histórias com vocês. Confesso que meu currículo de mochileira é relativamente pequeno, mas adianto que - se tudo correr bem - ele está prestes a aumentar!
Começo com um relato de uma viagem que foi - diga-se de passagem - fundamental para saber que se tudo der errado, ainda há chances de... mais alguma coisa dar errado! Conto aqui como virei funcionária de verão num hostel em Buenos Aires, quando o destino era uma viagem tranquila (?) para o Deserto do Atacama, com um voltinha pela costa chilena. Explico. O destino era o Chile, com passagem pelo norte argentino. A companhia: meu tio e um amigo. O meio de transporte era um carro 1.0 e a promessa era de aventura. E como foi!
Saímos de casa (Cascavel-PR fica, para quem não sabe, a mais ou menos 150 km da fronteira com a Argentina) no dia 24/12 e no dia 26 já estávamos na Província de Salta. A estrada vazia do dia 25/12 somada a fatores como o tempo bom e a disposição para ganhar tempo na estrada fizeram com que, em pouco mais de um dia de viagem, tivéssemos percorrido 1.828 km em um Clio 1.0. Parabéns pra Renault (sem marketing, eu juro!) e tranquilidade para nós, que já
O negócio é que o carro funcionou, o tempo colaborou e a nossa disposição, apesar do soroche, era de dar inveja a qualquer viajante. Estrada sem graça pra trás - leia-se províncias de Misiones, Corrientes e Chaco, com suas intermináveis planícies e gado, planícies e gado, planícies e gado -, era hora de dormir para acordar cedo e aproveitar a estrada e a vista das montanhas. A cidade escolhida para pouso no segundo dia foi a simpática San Salvador de Jujuy. Curtimos uma cidade, como manda o costume espanhol, noturnamente animada, com apresentações culturais e rodas de tango na praça, além de barzinhos movimentados na avenida principal. Abastecidos de frutas, era hora de ir pro hostel e descansar. Teríamos o domingo inteiro para aproveitar a vista e seguirmos parando em todos os pueblitos que nos convidassem à visita.
Nada se compara à emoção de estar diante da pré-cordilheira dos Andes e de todas aquelas cores (por incrível que pareça!) das montanhas desérticas em que qualquer motivo é motivo para parar e tirar fotos. Da singela Purmamarca (que merece um post à parte) ao marco do Trópico de Capricórnio, fomos parar nesta que foi a cidade onde se construiu um monumento aos índios - Humahuaca. Inesquecível é acompanhar dali, do alto do monumento, o sol se pondo e dando tchau às montanhas, uma a uma, numa dança de cores inesquecível - quem é que precisa de câmera profissional quando é o sol quem ajusta a luz para a melhor foto?
No outro dia, uma estrada escondida em algum lugar ali por perto daria numa vista incrível - era o que dizia meu tio. E discordar? Por onde ir, como chegar eram detalhes que não deveriam ser questionados.
Acordamos cedo e lá íamos nós em direção a sabe-deus-o-quê e sei-lá-onde. Juro que não sei chegar lá sozinha! Um lugar ermo, acerca da comunidade de Ocumazo, com uma plaquinha onde está escrito "Deixa umas folhinhas de coca e dá um traguinho de álcool à Pacha!" (É incrível ver como os povos andinos idolatram a mãe terra).O cenário de filme me convenceu de que deveria confiar na intuição viajante do meu tio. Em conversa fiada, daquelas que a gente torce para não virar realidade saiu um: "Se a viagem acabasse aqui, já teria valido a pena!".
Depois da frustração alimentar, resolvemos que não havia muito mais o que fazer em La Quiaca e, no outro dia pela manhã, colocamos todas as nossas coisas no carro para partir de volta no sentido sul, em direção a Laguna de Posuelos, uma reserva ambiental com mais de 25.000 flamingos, a 3.500 m de altitude, a (mais ou menos) 50 km de Abra Pampa. Antes disso, conhecemos o povoado de Yavi, quase um oásis em meio às montanhas, com pouco mais de 300 habitantes.
O dia estava lindo, mas estranhamente quieto. E foi assim que a viagem seguiu até a volta. A Laguna estava abandonada. Não havia informações, não havia guias, não
A primeira reação, após perguntar se estavam todos bem, foi sair do carro - eu logo estava, em estado de choque, sentada no meio da estrada de terra vendo aquele pesadelo tomar forma. A ficha demorou para cair e as minhas costas doíam muito. Logo vimos que os maiores machucados eram um roxo na minha perna e uma unha preta do meu tio, mas o corpo dolorido, o desespero pela situação e a visão do carro provocaram uma tristeza muito grande. Tive a sorte de não virar o pescoço, o suficiente para vocês não saberem o ocorrido por minhas palavras. A viagem programada para 17 dias, havia acabado no 4º dia, em pouco mais do que 2 minutos. Era hora de pedir ajuda. [Continua no próximo post.]